Meu
nome ainda não sei. Também não sei meu sexo, idade, profissão, hobbys, enfim...
Estou aqui na mente do escritor. Talvez eu seja um impulso elétrico, uma
inspiração ou uma ideia... sei lá. Não me pergunte como adquiri consciência.
Consciência, provavelmente, não; pois nada sou ainda... Nasci de uma
observância? Leitura? Imaginação? Vai saber...
Posso
ser um anjo, gênio, vilão, poema, palavras, imagem, som, reflexão... Quero
nascer, expor-me, imortalizar-me, porém, somente meu criador saberá... Talvez
eu seja um animal em alguma fábula, ou, quem sabe, seja como a Baleia ou
Quincas Borba por exemplo. Um herói como Ulisses, Dom Quixote, Macabeth. Essas
personagens não as conheço, mas vejo aqui no cérebro do meu criador. Alguns com
boa aparência, outros nem tantos. Deparei-me com seis personagens de
Pirandello. Esses, ao contrário de mim, procuram um autor. Eu já estou aqui.
Sou uma sombra, um enredo, uma projeção. Como e quando sairei... Não posso
precisar... Nada conheço além do que vejo; nada vejo além do que ouço; nada
ouço além do que sinto... A época não tem muita importância. Posso ser do século I
ao ano 3050, somente meu autor saberá.
Talvez
eu seja uma estátua que tudo observa muda e impassível. Um androide, robô, um
cidadão comum. Um verbo, uma ação... Mas no momento sei que nada sou, querendo
ser alguma coisa. Hum... acho que ouvi isso, ou li essa ideia em algum canto da
mente a qual habito.
Quantas
imagens vejo de mundos e mares explorados e outros a serem descobertos e
criados? Assim a expectativa me atormenta nesses tempos. É provável que eu
retorne. Adormeça – como A Bela adormecida, ou desapareça como um raio, uma
brisa, um sopro de ideia, que vem e vai-se rapidamente... Mas, não quero pensar
nisso por hora, pois ora, não sou um vivente agora?
Aqui
parece o espaço de tantos impulsos elétricos vibrantes que vejo no momento.
Brilham como estrelas. Uma visão indescritível. É tão belo e assustador ao
mesmo tempo pelas diversidades de pensamentos e ideias. Só mesmo estando desse
lado para observar e ter uma opinião. Ainda aguardo minha vez. Quando será,
espero que breve. Sinto meu criador pensando em mim. É palpável. O toque em mim
é sem tato físico, porém sinto a carícia, o abraço, a sedução...
O
Bom é vê-lo escrevendo sobre mim. Vejo através dos seus olhos. Porém, não me
vejo nessas palavras dispersas. Ouço as melodias variadas, sinto a sensação
sensível de cada tom... o que serei? O que farei? Ser, às vezes, fere.
Meu
nome poderia ser – nesse instante – Tormento, pois quero ser alguma coisa ou
algo e não consigo fazer-me – ou ser moldado –, e transformo-me em dor física
no cérebro do meu criador.
Desfar-me-ei
por enquanto. Serei poeira, impulso, inspiração, sonho, fantasia, ideia,
palavra. Renascerei – quem sabe – numa outra oportunidade. E quando acontecer,
você saberá.
13-14/02/2013
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