terça-feira, 2 de agosto de 2011

PRAZER E FRUIÇÃO


Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura. Não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável de leitura. Texto de fruição: aquele que pões em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem.” – Roland Barthes, O Prazer do Texto, pág 20-21.

Para um bom leitor – e escritor – o livro de Barthes é muito interessante. Nele o autor explica a diferença entre texto de prazer do de fruição.  Lendo-o têm-se uma idéia entre um texto clássico e um best-seller. Porém

“Se aceito julgar um texto segundo o prazer não posso ser levado a dizer: este é bom, aquele é mau.”(BARTHES, 2010: 19),

por isso é bom ter um repertório de leitura variado. Sou bem eclético no quesito Literatura. E, para um apreciador de livros, é importante conhecer os dois lados. Tenho uma colega fanática pelo Stephen King. Uma leitora voraz. Uma vez ela me disse que estava lendo Macabeth; porém achou-o muito chato. O Drácula, também não foi de seu agrado. Emprestei A Divina Comédia e alguns outros. Ela leu, mas não gostou muito. Percebi que ela gostava  dos livros de mais fácil compreensão. Aqui entra o pensamento de Barthes mais uma vez:

“... todo texto sobre o prazer será sempre apenas dilatório; (...) Semelhante a essas produções da arte contemporânea, que esgotam a sua necessidade tão logo a pessoa as viu (pois, vê-las, é compreender imediatamente com que fim destrutivo são expostas: não há mais nelas nenhuma duração contemplativa ou deleitativa), uma tal introdução não poderia senão repetir-se – sem jamais introduzir nada.” –  Idem, Ibidem pág.25-26




Ela lia muito Sidney Sheldon, Daniele Steel, Janet Dailey, Agatha Christie, Robin Cook, e, claro, Stephen King, dentre muitos outros. A literatura clássica não era muito da sua preferência. Assim, não dá para ser um bom leitor quando quero ler apenas uma literatura mais simples. No curso de letras tinha um colega que só lia clássicos. Um verdadeiro intelectual. Fui criticado por outros colegas quando me viram com um exemplar da série Crepúsculo. “Nossa Sidney, você se deixou contaminar?” Também gostavam de autores como Herman Hesse e Clarice Lispector. Sou apaixonado pela literatura. E ninguém começa lendo Machado ou Shaskeapeare. O problema e ficar só nos livros mais comuns ou só nos mais difíceis. Devemos permear nos dois lados, pois...

“Toda uma pequena mitologia tende a nos fazer acreditar que o prazer ( e singularmente o prazer do texto) é uma idéia de direita. (...) À direita ,  o prazer é reivindicado contra a intelectualidade, o clericato: é o velho mito reacionário do coração contra a cabeça, da sensação contra o reacionário do coração contra a cabeça, da sensação contra o raciocínio, da ‘vida’ (quente) contra ‘a abstração’ (fria): o artista não deve segundo o sinistro preceito de Debussy, ‘procurar humildemente causar prazer’? À esquerda, opõe-se o conhecimento, o método, o compromisso, o combate, à ‘simples deleitação’ (no entanto, e se o próprio conhecimento fosse por sua vez delicioso?). Dos dois lados, a idéia bizarra de que o prazer é coisa simples, é e por isso que o reivindicam ou o desprezam.” –Idem, Ibidem pág 30

 – Embora façamos nossas escolhas inevitavelmente. É necessário gostarmos da literatura para avançarmos no oceano de palavras e aportarmo-nos em alguma ilha de leitura ao meio do caminho.



Bibliografia:

BARTHES, Roland, O Prazer do Texto, Ed Perspectiva, 2010, 5ª edição

Um comentário:

  1. Bela dica pra minha pr�xima leitura, meu amigo. Que bom vc ter atualizado o blog, a gente sente falta de bons textos como os seus. Beijos de carinho.

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